CAÇA AO BODE EXPIATÓRIO – O Estigma da Riqueza de São Vicente
Irene Alexandra Neto – 16.11.2025
Porque o silêncio pesa, a injustiça persiste e a verdade precisa de ser dita.
Há fenómenos antigos que atravessam os séculos como sombras persistentes. Um deles é a necessidade humana — quase bíblica — de encontrar um bode expiatório sempre que uma sociedade entra em convulsão. Mudam-se os tempos, mudam-se os instrumentos, mas a mecânica moral é a mesma dos rituais arcaicos em que se sacrificavam animais — ou pessoas — para “aplacar” a ira dos deuses.
A comunidade teme olhar para as suas próprias falhas e escolhe alguém para carregar culpas colectivas. Um rosto para ser crucificado. Um corpo para ser queimado na fogueira pública da frustração.
Em Angola, como em tantos lugares do mundo, a riqueza é um paradoxo: fascina e incomoda, inspira e irrita, desperta ambições e inflama ressentimentos. No caso de Carlos São Vicente, esse paradoxo foi transformado em arma. Não foi apenas o processo judicial a colocá-lo no epicentro da tempestade: foi o estigma social da riqueza, manipulado e amplificado até se tornar uma forma de linchamento público.
Os detentores do Poder fizeram dele o candidato ideal para expiar pecados alheios. O “pecado” de ter trabalhado, de ter construído, de ter prosperado. O “pecado” de ter estabilidade e competência num ambiente onde muitos enriqueceram por vias bem diferentes. O “pecado” de ter uma vida económica auditada, transparente e legal.
E o que faz uma sociedade perante quem se destaca? Em vez de justiça, escolhem o linchamento. Porque, na verdade, o que sempre incomodou não foi nenhum crime, foi o sucesso.
Num país onde a maioria luta diariamente pela sobrevivência, qualquer pessoa que tenha construído um património significativo é facilmente alvo de suspeitas, independentemente da sua conduta ou do modo como alcançou os seus resultados. O imaginário colectivo não admite que alguém tenha prosperado de forma honesta, especialmente se essa prosperidade for visível e estruturada.
O ressentimento disfarça-se de moralidade.
É fácil atacar um homem que tem património. É fácil insinuar culpa onde há apenas trabalho. É fácil vestir o manto da virtude e apontar o dedo.
As mesmas pessoas que ovacionam empresários e louvam a ascensão pelo mérito, são as que, perante o sucesso alheio, deixam a admiração apodrecer em inveja e a inveja transforma-se em violência simbólica.
Porque o mérito é celebrado apenas até ao momento em que se torna incómodo.
Riqueza Apaga a Empatia
Muitos conhecem a verdade.
Muitos sabem que o património de São Vicente foi construído ao longo de décadas de actividade legal, auditada e tributada.
Muitos sabem que não há provas contra ele.
Mas calam-se.
Há um silêncio envergonhado, quase culpado, entre pessoas “de bem” — aquelas que conhecem os factos, que testemunharam o trabalho de uma vida, que sabem distinguir honestidade de oportunismo.
Calam-se por medo.
Medo de serem associados a ele.
Receio de serem arrastados para a lama por simples proximidade.
Pavor de perderem privilégios, posições, protecções, favores.
Pânico de serem os próximos na fogueira.
Não é falta de decência, é falta de coragem.
Hipocrisia Aponta o Dedo
Os que mais gritam “culpado!” são, tantas vezes, os que têm património de origem tão nebulosa quanto o seu moralismo tardio. A sua agressividade é distracção. A sua indignação é teatral. O seu clamor por justiça é apenas a tentativa de comprar, com gritos, a própria impunidade moral.
A riqueza de São Vicente nunca foi o problema.
O problema é o que ela desperta nos outros:
- Inveja.
- Ressentimento.
- Desconfiança.
Nada disso tem a ver com justiça.
O que Muitos Esquecem
A questão nunca foi: “ele é rico.”
A questão é: “cometeu algum crime?”
E cinco anos passaram sem que uma única prova tenha emergido.
A ONU foi cristalina:
- Detenção arbitrária.
- Violação de direitos.
- Ausência total de fundamento jurídico para mantê-lo preso.
A riqueza não anula direitos humanos. A riqueza não suspende a Constituição. A riqueza não autoriza confiscos sem base legal.
O Cinismo Bíblico
Há um cinismo tão antigo quanto as Escrituras na forma como muitos se comportaram.
Em vez de catarse, histeria. Em vez de justiça, espectáculo. Em vez de verdade, conveniência.
A velha lógica dos sacrifícios humanos renasce, disfarçada de “combate à corrupção”. mas só atinge os alvos que dão jeito, nunca os que dão medo.
E assim se repete o ritual primitivo:
Sacrificar um inocente para proteger culpados.
Mas a verdade permanece simples:
Carlos São Vicente não é Jesus. Não será crucificado para que os Barrabás sejam soltos.
Injustiça Destrói Vidas
Cinco anos após 2020: Carlos São Vicente continua preso sem provas.
O seu património foi confiscado sem base legal. A sua família — nunca arguida — ficou sem casas, sem bens, sem poupanças, sem meios mínimos de vida.
O que nos fizeram não é apenas ilegal.
É cruel. É desumano. É moralmente vergonhoso.
Um Apelo Final
Hoje, Angola precisa de maturidade moral e de coragem civil.
Defender a justiça no caso de Carlos São Vicente é defender o Estado de Direito.
É defender a sociedade de precedentes perigosos.
Porque se um homem com recursos, visibilidade e auditorias internacionais pode ser privado dos seus direitos sem provas… então ninguém está seguro.
O estigma da riqueza é apenas uma cortina de fumo.
O essencial é isto:
- A legalidade foi violada.
- A família foi punida sem ter cometido crimes.
- E Angola ainda não reparou a injustiça que o mundo já reconheceu.
Tu quoque, Brutus
As minhas mensagens são pessoais — plumas levadas pelo vento, for your hearts only.
Dirijo-me a cada um:
— A quem me conhece.
— A quem conhece a nossa família.
— A ti, a si, a vós. Vocês sabem quem são.
Sejam de que partido forem, de que igreja forem, de que país forem.
Porque, apesar de tudo, ainda acredito nas pessoas que têm memória, que têm coragem, que reconhecem a fronteira entre justiça e vingança.
Existe um problema real, grave e urgente que tem de ser resolvido.
E tem mesmo de ser resolvido.
Porque a indiferença também mata.
Mata a justiça. Mata a dignidade. Mata a esperança.
E repito, para que não reste dúvida:
São Vicente não é Jesus. Não será crucificado para que os Barrabás continuem soltos.
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